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Nakadia - Techno da Tailândia para o mundo
junho 02, 2015portalundergroundbrasil@gmail.com
Nakadia é uma DJ e produtora de Techno, uma das poucas DJs do underground nascida e criada na Ásia. Ela transcendeu barreiras e está crescendo cada vez mais na cena underground internacional, tocando em festas ao redor do mundo e recentemente afiliada na lendária Coccon. Mesmo sendo atualmente um sucesso em várias partes do mundo, ela tem o desejo de voltar regularmente para a sua região e contribuir com o crescimento da cena, levando até lá DJs como Sven Väth, já que é um local onde todo o cenário da música eletrônica está se desenvolvendo rapidamente.
Saiba mais sobre ela e sobre a cena na sua região natal, agora, em suas próprias palavras, e aproveite para ouvir um pouco do seu som:
O desenvolvimento da cena eletrônica na Ásia
Era outra época, 13 anos atrás, quando eu descobri o mundo da música eletrônica e comecei a praticar minhas habilidades no toca disco. Eu descobri a música em uma viagem para a Alemanha em 2002 pois na Tailândia não havia nada para ser descoberto. Os DJs eram meros funcionários do clube e, na maioria das vezes, ficavam em um canto escuro escondidos para ninguém vê-los. A música, naquela época, era o típico "Mickey Pop House" com vocais estranhos e batidas sempre no mesmo padrão, então eu acredito que ninguém se importava com música naquela época. O que eu conheci na Europa, tentei trazer para a Tailândia e contaminar os outros.
Não havia outra DJ do sexo feminino na época, então, a maioria dos gerentes dos clubes locais estava muito interessados em agendar datas para eu tocar nos clubes, mas sob uma condição: "Não toque as músicas que você toca normalmente!", que era Techno. Isso quis dizer que eu fiquei sem tocar por alguns anos. Fui forçada à voltar à Europa e achar meu lugar por lá.
A situação na Tailândia era muito simples: o povo ia à pubs com muitas mesas na pista de dança e com dois objetivos em mente: ficar bêbado e conseguir alguém para levar para a cama o mais rápido possível. Os turistas e expatriados iam à clubes expatriados onde a maioria dos DJs (também de outras nacionalidades) tocavam funky house. Essa situação durou alguns anos, então algo aconteceu...
DJs Mulheres e a EDM
Depois de eu não me mostrar disposta a trocar o estilo da minha música, os gerentes dos clubes tailandeses amaram a ideia de ter uma garota atrás dos decks, então eles começaram a ensinar garotas sexy à tocar. Logo em seguida, foram inauguradas escolas de DJs apenas para mulheres e a Pioneer lançou o "Lady DJ Championship", competição entre DJs apenas do sexo feminino. Essa revolução tem acontecido por anos e durante os últimos dois anos correu lado à lado com o domínio da cena da EDM na Tailândia e por toda a Ásia. Subitamente, as pessoas começaram a conhecer o nome dos artistas e até os DJs locais foram celebrados como os grandes nomes. Durante os últimos dois anos, surgiram diversos festivais por lá, surpreendendo à todos com os enormes avanços, palcos gigantescos e efeitos visuais inspirados pela Tomorrowland e por outros festivais.
A onda da EDM atingiu a Tailândia e o resto do sudeste da Ásia como se não houvesse amanhã. Ao mesmo tempo, a busca por mulheres para serem DJs continuava e centenas delas apareciam de todos os cantos.
Enquanto antigamente os DJs ficavam em um canto escuro do clube e recebiam mensalmente com o resto da staff do clube, os DJs de hoje fazem tour de um clube para outro, às vezes tocando em 2 à 3 festas por noite. Seus horários são apertados. Pioneiras como Roxy June tocam até 30 vezes por mês. Elas fizeram sucesso e são famosas, mas a fama é praticamente nacional, com performances internacionais ocasionais em algum lugar da Ásia. O sucesso internacional da EDM ainda é baseado em hits e criado pelos grandes nomes em Amsterdam e nos EUA, mas por todo o sudeste da Ásia você vai achar mulheres "superstar" com números enormes no Facebook dizendo ser a número 1 da Ásia. É engraçado assistir a loucura de fora, enquanto se está muito feliz que existe outro movimento simultâneo: O Underground.
O Desenvolvimento do Underground
O que parecia impossível por muitos anos está acontecendo em muitas cidades: muitos clubes pequenos estão celebrando o deep house, tech house, techno ou drum & bass. Na Ásia, a maioria das pessoas que você encontra nas pistas de dança underground são expatriados ou turistas, mas cada vez mais e mais tailandeses e asiáticos em geral estão descobrindo o underground e indo até as festas boas.
Várias vezes presenciei a primeira vez de muitos enquanto estava tocando, dava para ver em seus olhos que eles pensavam: "Devo ficar ou devo ir embora?". Durante uma festa em Kuala Lumpur (Capital da Malásia) um chinês me mostrou o dedo do meio no começo do meu set, mas eles aprendem rápido e logo você já os vê celebrando cada virada da música. Ele veio falar comigo depois do meu set, desculpou-se e disse que nunca havia ouvido nada parecido antes mas que, depois de ouvir o set inteiro, ele amou. É isso que eu mais amo sobre tocar na Ásia: em cada festa, você vê a cena crescendo diante dos seus olhos. Os locais ficam felizes em descobrir novas sonoridades e os expatriados ficam felizes em achar um lugar que os remete ao seu lar do outro lado do mundo.
Quando comecei como DJ havia um clube legal no sudeste da Ásia, Zouk, em Singapura. Desde os anos 90 eles tinham os melhores DJs passando por lá mas, com o começo da EDM, acabou se tornando apenas mais um clube comercial. O pioneiro da cena underground se foi, mas hoje estamos muito felizes em ter tantos pequenos clubes e festivais underground na região e estou orgulhosa que a Tailândia possui, provavelmente, a melhor cena da região. Há muitos jovens artistas talentosos, clubes e eventos como "Kolour", onde você encontra artistas incríveis no line up: Sven Vãth, Richie Hawtin, Loco Dice, Seth Troxler, Jamie Jones, Hot Since 82, Dubfire, MANDY, Ninetoes - são só alguns dos nomes que vimos tocar no final de 2014 e início de 2015. Artistas locais estão sendo inspirados pelas performances dos grandes e a qualidade musical - não apenas na Tailândia, mas por todo o continente - está melhor do que nunca. Ainda não somo uma América do Sul e provavelmente nunca seremos, mas a Ásia está começando a achar uma alma em algum lugar entre a busca por dinheiro e fama.
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