O duo de DJs Tale of Us deu uma entrevista exclusiva para o Resident Advisor e nós trazemos agora para que você possa conhecer mais a vida, intimidade e rotina destes dois artistas que, cada vez mais, encantam multidões e criam adeptos por onde passam. São integrantes do duo Carmine Conte e Matteo Milleri. Eles chegaram em Berlim em 2009, e lá alcançaram tamanho sucesso que já em 2013 alcançaram o segundo lugar na lista dos TOP 100 DJs underground da Resident Advisor.
Vocês fazem um som muito distinto dos outros. Isso faz com que seja mais difícil para ramificar o seu trabalho? Quero dizer, ser leal ao tipo de som que fez vocês populares enquanto produzem músicas novas?
MM: Isso é bem difícil sim, mas eu acho que nós sempre fizemos o que queríamos fazer. A parte mais difícil foi o nosso primeiro ano. Nós não estávamos preparados, não possuíamos todas as habilidades necessárias para o níveis que estávamos sendo projetados. Essa foi a parte mais difícil, e tivemos que dar dez vezes mais duro do que havíamos planejado.
CC: Nós trabalhamos por uns três anos absolutamente todos os dias. Nós nem fazíamos ideia do que estava acontecendo fora do nosso estúdio. Nós fazíamos música, música, música, e depois nossa primeira track foi lançada.
Vocês já haviam ido para Milão antes?
MM: Eu havia ido pra Milão estudar economia.
CC: Eu estava estudando direito, daí nos conhecemos...
MM: Nos conhecemos, começamos a fazer música e largamos a universidade para vir para Berlim.
Vocês vieram para Berlim especificamente para virarem DJs e produtores?
CC: Não.
MM: Sim.
CC: [risadas] Ah é? Nós viemos para Berlim para seguir alguns sonhos que tínhamos, claro, mas...
Vocês não sabiam exatamente qual era esse sonho!
CC: Nós ainda não sabemos direito [risadas].
MM: Um sonho, um sonhos... Sonhos não deveriam virar realidade, você sabia?
Então no momento não parece que um sonho virou realidade?
MM: Às vezes parece, mas é melhor que não pareça - é isso que eu quero dizer. É melhor só continuar, sonhar mais coisas, senão, é isso!
CC: É isso, acaba sua vida.
MM: Nenhum sonho deveria virar realidade. Se virar, crie outro.
É estranho estar onde vocês estão hoje? Vocês se sentem surpresos sobre como vocês progrediram bem?
MM: Não tão surpresos quanto vocês [risadas]. Quero dizer, nós realmente trabalhamos duro! Não fazíamos nenhum after ou mesmo festas em si por dois anos, só vínhamos pra casa e fazíamos mais música.
CC: Nós começamos a fazer música em 2002, não? 2004, 2003... Algo assim.
MM: Sim, mas depois disso não estávamos mais surpresos tipo: "O que acabou de acontecer?". Estava mais para: "Ainda bem que isso aconteceu!"
CC: Por causa de todo o esforço que tivemos. Foi realmente muito esforço.
MM: Eu chegava a um passo da insanidade às vezes, acredita?
CC: No limite, mesmo. Nós temos talento, mas o processo e a criação dão muito trabalho. Talvez algumas pessoas tenham um talento onde as coisas aconteçam rápido e fácil, mas nós não. Nós trabalhamos muito, fizemos umas mil músicas e lançamos seis.
MM: Foi umas 100.
CC: É, mais de 100.
MM: 200 este ano.
CC: 3 computadores queimaram, 2 hard drives perdidos...
MM: 200 tracks se foram, REALMENTE se foram, porque não tínhamos cópia.
CC: Nós gostamos de viver no limite, sabe? Sem back-up [risadas].
MM: Nós não tínhamos muito dinheiro, tínhamos um computador branco ruim da Apple e tudo estava nele, as músicas, tudo. Nós tocávamos com ele, assistíamos pornô nele, e era um notebook para duas pessoas quando estávamos vivendo em um quarto pequeno com uma cama e um estúdio dentro.
CC: Só a cama e o estúdio, não havia espaço. Você acordava e estava dentro do estúdio.
MM: Por uns seis meses? Um de nós trabalhava no estúdio enquanto o outro dormia. Tinha música tocando em casa 24 horas por dia. Era trágico.
CC: Realmente trágico! [risadas]
MM: Eu quase cometi suicídio duas vezes [risadas].
Então vocês chegaram em Berlim em 2008?
CC: 2009. Em 2009 nós chegamos, eu e ele, com pouquíssimos aparelhos para trabalhar, e uma mala. Nós chegamos aqui e estava muito frio, tinha muita neve.
MM: Nós chegamos em Berlim e devia ter uns 90 centímetros de neve, e eu estava de Converse All Star carregando a pouca aparelhagem que tínhamos.
Mudança brusca de Milão?
MM: Bem, nós vivíamos super bem com nossas famílias, então, em Milão era ótimo. Mas desde o momento que eu me mudei, não quis a ajuda nem do meu pai nem de ninguém da minha família.
CC: Eu também.
MM: Nós costumávamos comer aquele frango lá na estrada. Você se lembra daquele lugar que vendia frango no meio da rua?
Você quer dizer Hühnerhaus.
MM: Não, isso era só quando saíamos para jantar.
CC: [risadas] Sim, nós nos arrumávamos e "Hora de ir no restaurante do frango!"
MM: Aquele frango era uma parte importante da nossa carreira. Vou vomitar até se sentir o cheiro daquilo! Nós comemos pelo menos 200 deles, cada um.
Não foi ruim começar do zero? Largar sua família de mão, estar quebrado em uma cidade nova?
MM: Não, esta parte foi ótima! Pois não estávamos felizes em Milão. Quero dizer, eu tinha minha vida completamente planejada, sabe? Eu não queria ser um advogado ou algo do tipo. Não é que isso fosse difícil - eu ia para a universidade, estava indo tudo bem, mas eu estava realmente triste por dentro. Eu precisava de algo novo?
CC: E não tínhamos nenhuma possibilidade de sermos músicos na Itália.
O que fez Berlim um lugar melhor para vocês serem músicos?
MM: As pessoas sempre dizem que há tanto acontecendo em Berlim que você pode ficar em casa. Eu acho que, na verdade, não há tanto acontecendo assim, se você não está falando sobre techno. É uma cidade muito solitária, você pode ficar muito sozinho. Não é como na Itália, onde você vai para o bar do seu amigo todos os dias. E o tempo é muito ruim, essa escuridão faz você acessar áreas da sua mente onde você pode criar arte.
Vocês saíam muito quando chegaram aqui?
MM: Eu acho que nunca saí.
CC: Não. O primeiro ano, sim. Panorama Bar era como a universidade.
MM: Para você!
CC: Sim, para mim.
MM: No primeiro ano em Berlim eu acho que fui no Panorama Bar uma vez. Além disso, não tínhamos muito dinheiro e não conhecíamos muitos DJs para entrar nas listas, portanto, não saíamos muito. Mas depois começamos a fazer um tour pesado pelo mundo, portanto, só queríamos ficar em casa quando estávamos por aqui.
Chegou uma hora que vocês ganharam confiança na sua música, quando vocês conseguiam dizer que aquilo que vocês estavam fazendo era muito bom?
Chegou uma hora que vocês ganharam confiança na sua música, quando vocês conseguiam dizer que aquilo que vocês estavam fazendo era muito bom?
MM: Eu não consigo ter isto. Preciso que alguém me diga que está bom.
CC: Nós temos aqueles de quem gostamos da opinião, mandamos para alguns amigos.
MM: Mas posso mandar para pessoas que estão ligadas à música.
MM: Depois que você faz uma música, é realmente difícil de entender se ela está boa. Muitas vezes, você pensa que ela está realmente boa mas, quando escuta no outro dia, não gosta! Outras vezes vocês faz uma música e não gosta mas então você mostra para alguém e a pessoa pede para receber uma cópia e ela começa a se espalhar, mando para alguns DJs também. De certo modo, você faz algum marketing das músicas antes de decidir lança-las.
Apenas tocando e mandando para outros DJs?
MM: Sim, ou você toca uma música no Boiler Room para ver se vai ser bem aceita ou não, sabe?
CC: Bem, nós já devemos achar que é uma boa música mesmo antes de tocar no Boiler Room, claro.
MM: Mas você não sabe se vai funcionar, sabe? Daí você está lá e todo mundo acha ótima, e às vezes não é nem aquela com a qual você tinha mais expectativa.
CC: É tudo por causa da cara que você faz quando coloca uma música [risadas].
Como é a rotina de vocês?
CC: Nós trabalhamos em estúdios separados, então nos encontramos no final da tarde para acabar o que começamos.
MM: É muito difícil que duas pessoas trabalhem ao mesmo tempo em uma mesma ideia. Se nos conectamos pode ser legal, algo pode funcionar, muitas coisas funcionam desta maneira. Mas basicamente, em produções eletrônicas, o computador é o aparelho principal e é uma pessoa apenas que o controla. Nós trabalhamos juntos há 10 anos e é muito difícil ter a mesma ideia ao mesmo tempo. Acho que é impossível.
CC: Nós fazíamos músicas pelo Skype também. Eu mandava para o Matteo um loop ou uma parte qualquer da música. Eu sei quando é o momento exato de mandar algo para ele, e ele vai saber se é bom ou não, e o que fazer com isso.
MM: Se eu digo que não está bom, ele continua trabalhando no que havia me mandado e, depois de uma semana, está bom. Nosso álbum é um projeto mais ambicioso - estamos trabalhando em quatro estúdios diferentes para finaliza-lo. Tem um estúdio que é onde eu faço as mixagens e faço a música acontecer, o estúdio dele tem pianos e instrumentos - ele junta as ideias principais. Vamos ao meu amigo que trabalha com sincronização e é pianista. Damos à ele os arquivos do que trabalhamos e ele nos ajuda a sincronizar tudo. Não que isso seja algo que não saibamos fazer, mas ele já faz isto à 20 anos. Além disso, você conhece o produtor chamado Fango? Ele é basicamente um baterista.
CC: Ele está nos ajudando a criar novas batidas, mais orgânicas.
MM: A parte boa disso é que não temos prazo de entrega. Provavelmente vai ser lançado no Life and Death, mas depende. Eu acho que em um ano nós já teremos acabado. E nós vamos decidir, então, o que fazer com isso. Além disso, vamos fazer um live que não é para clubes. Vamos trabalhar com todos os produtores que ajudaram no álbum. Não como uma banda, mas não sei, algo mais como uma "montagem eletrônica". A melhor parte disso é que não tem que dar certo, portanto, não há pressão, sabe?
Como assim, não tem que dar certo?
MM: O live não tem que dar certo, eu não tenho compromisso em faze-lo dar certo.
Então, se ficar ruim, você simplesmente não vai divulga-lo?
MM: Exatamente. Eu não quero fazer o live e estressar as pessoas por uma hora. Se der certo, deu!
Acho que é só achar o equilíbrio.
MM: O equilíbrio. Equilíbrio é a coisa mais importante da vida, principalmente entre duas pessoas. Você tem que achar o equilíbrio senão vocês simplesmente se matam.
Como está a relação de vocês dois neste ponto?
CC: Como se estivéssemos casados!
Vocês brigam?
MM: Não, mas há certa tensão. Altos e baixos. Já rompemos três vezes.
CC: [risadas]
MM: Não, duas vezes, eu acho, então dissemos: "Ok, é isso".
CC: Ninguém se lembra, mas depois de um ano nós rompemos. Estávamos fartos.
MM: Tragédia. Tivemos que tocar com Kalkbrenner. Lembra?
CC: Sim! Antes de Kalkbrenner eu achava que não ia conseguir, então fomos lá e destruímos.
MM: Foi ótimo! Mas tivemos uma péssima vibe um tempo antes e estávamos tipo: "O que estamos fazendo? Vamos tocar com Kalkbrenner amanhã? Não fazia sentido. Mas foi ótimo e viremos amigos de novo. [risadas] Mas e se fosse ruim? Teria acabado, com certeza.
CC: Aquele DJ salvou nossas vidas e nossa carreira. Houve um momento ou uma mixagem que fizemos e nos olhamos e soubemos: "Ficaremos juntos" - mas sem nunca falar nada, só aconteceu.
[...]
Qual é a distinção do duo de vocês?
CC: Eu sou mais melódico, ele é mais rítmico. Mas ambos fazemos as duas coisas.
MM: Ele é preguiçoso, entende? [risadas] Ele tem ótimas ideias e as vezes eu tenho que falar para ele terminar as tracks pois é muito preguiçoso e acaba deixando pra lá. Eu faço mais trabalho e cuido da gestão. Ele é mais criativo, mas ainda não é como se fosse A e B.
CC: Mas às vezes ele simplesmente confia em mim e eu nele. Às vezes temos que fazer dois remixes e ele faz um enquanto eu faço outro.
MM: Sabe o remix de "50 Weapons" que fizemos para Cosmin TRG? Basicamente dissemos: Ok, temos que fazer dois remixes, um para Matthew Johnson e o para Cosmin TRG. Íamos fazer juntos, mas decidimos que cada um ia fazer um.
Qual dos dois fez qual delas?
MM: Não vou te dizer, mas não tem como dizer que foram dois produtores diferentes que fizeram.
CC: Fomos nós!
CC: Fomos nós!
Escute um set da dupla:
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Tale Of Us no Soundcloud: https://soundcloud.com/taleofus
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