DJs Piñero

Entrevista com o DJ Piñero

abril 22, 2015portalundergroundbrasil@gmail.com


Durante uma festa ocorrida em sua própria casa, tivemos a chance de entrevistar o DJ Piñero, nome forte na cena underground gaúcha. Através de um papo descontraído, ficamos sabendo um pouco mais sobre as ideias, a carreira e os planos desse grande nome da cena atual.



O início da carreira

Antes da atividade de DJ se tornar tão popular como é hoje, toda turma de amigos que se prezava tinha aquele que era “o cara do som”. Ele ficava encarregado por essa parte toda vez que rolava junção da turma. Desde meados dos anos 80, Paulo Pinheiro (ou DJ Piñero), era quem fazia esse papel na turma. Teve um bar na Praia do Rosa no verão de 1985, e ali a vontade de “misturar” as músicas começou a aparecer mais que nunca. Apesar de sua preferência pelo rock, muitos outros estilos sempre estiveram presentes nas reuniões em que “colocava som”, mas o som de um de seus vinis sempre causava algo diferente. Techno Pop do Kraftwerk tinha algo a mais. Ele foi a semente. 
Apesar de conduzir sua vida profissional por outros caminhos que o afastaram dessa realidade, sempre esteve envolvido com música. Um curso aqui, outro ali, fez técnica vocal, cantou em coral e bandinha de garagem. Mas foi em 2006 que decidiu botar a mão na massa. Fez um curso de DJs para conhecer o equipamento e a técnica. De lá pra cá nunca mais parou.

Começou a tocar em Porto Alegre, no Circuito Bar. O Circuito ficava na Cidade Baixa, e era do Chef Jean Rodrigues e do Flavio Borges, hoje proprietários do Restaurante Jasmin. Uma amiga sua tinha começado a tocar fazia pouco tempo, então juntaram-se e criaram uma festa quinzenal. Durou cerca de um ano. A amiga acabou parando de tocar e Piñero seguiu seu caminho.

Um episódio que, com certeza, ajudou a formar a sua opinião sobre a música eletrônica, foi o Carnaval de 2007 no club Sirena, em Maresias/SP, quando ele estava começando a entrar de cabeça no universo da música eletrônica. Haveriam 4 noites de festa, e ele comprou 3 ingressos para as 3 primeiras noites: Sasha, Fatboy Slim e Deep Dish, deixando de lado a quarta noite, quando tocaria o até então desconhecido para Piñero, Sven Vath - que arrependimento! - e não é para menos, pois, segundo Piñero, o “Papa” é um desses DJs que, a cada vez que se apresenta, “nos leva a outras dimensões”.

Uma vez dentro do universo da música eletrônica, Piñero identificou-se com seu lado mais conceitual logo de cara. Nunca curtiu modismos, a massificação. Musicalmente, sempre buscou novas sonoridades, mesmo antes de entrar nesse mundo, e a música conceitual certamente seria o seu destino nessa fase.

Seu trabalho atualmente

Para Piñero, antes de tudo, vem o amor à música e, como consequência disso, o amor à música eletrônica e a toda cultura que a envolve. Segundo ele, sem isso é difícil persistir na cena, já que vivemos em uma cidade com características provincianas e onde há muita valorização do tradicional, e resistência ao novo, ao "diferente". Quem vive essa cultura sabe que o público que prefere a música eletrônica conceitual (ou avançada, como alguns chamam), é minoria no Brasil, e no RS mais ainda. 

Obviamente existe o lado "business" disso tudo, e aí existem dois caminhos: ou você é fiel ao que acredita e gosta, e mantém foco nisso, e nesse caso o resultado vem com o tempo, ou você opta por antecipar os louros e acaba migrando para um caminho mais fácil e rápido, como a música eletrônica comercial, que atinge um público maior, com maior número de clubs e gigs interessados. Que fique claro aqui que não há nenhum demérito em gostar deste ou daquele estilo. Até mesmo porque tem muita gente boa tocando comercial, pois esse é o estilo de sua preferência, e nesse caso também há coerência. Como tudo é uma questão de gosto, cada um na sua e está tudo certo, posso não gostar de outros estilos, mas não tenho preconceito algum. Respeito acima de tudo, todos temos os mesmos direitos. 

 
Além dessa questão, aqui no Brasil temos a concorrência de outros estilos musicais (sertanejo, pagode, samba, axé, tradicionalismo), diferentemente da Europa, onde as coisas são mais fáceis, sob esse prisma. O bom é que isso tem mudado nitidamente a cada ano que passa em nosso país. A música eletrônica tem avançado muito nos últimos anos por aqui. Mas ainda somos a minoria. E, se formos analisar a underground music, somos a minoria da minoria.”

Em sua opinião, o trabalho que está sendo feito hoje terá grande impacto nas gerações seguintes, hoje na faixa de 18 - 19 anos, e já começa frequentar festas. “Para termos público no futuro, é necessário fazermos hoje um trabalho de base, levando a música eletrônica a ouvidos ávidos por novidades, sem vícios e preconceitos, e que ainda estão em busca do que toque seus corações e almas.”

A música na vida de Piñero

Seria piegas dizer que a música é algo presente em toda sua vida e sem a qual não consegue viver, mas segundo ele, é exatamente isso. Para ele, a música é uma forma espetacular de comunicação, é a representação concreta da alegria da alma. “Pelo gosto musical se pode entender muito da personalidade de uma pessoa. A música está em tudo à nossa volta, da natureza à loucura urbana. E dentro de cada um. Funciona como uma espécie de catalisador, que atrai e agrega pessoas com mesmas afinidades.” Sua vocação para reunir e ligar pessoas, unida à música, fez com que ele inevitavelmente começasse a trabalhar com produção de festas, desde 2007, quando lançou a Biônica.

Apesar de não ter um estilo de música preferido, o rock tem um lugar especial. Escuta e gosta de muita coisa. Na hora de tocar, no entanto, a coisa é diferente: a paixão pelo Techno é evidente. Mas também gosta e toca estilos como house, minimal-tech, tech house. Ele não gosta de rótulos, pois eles restringem, limitam. Já perdeu gigs pelo preconceito de pessoas que o consideram “techneiro” e não têm noção de sua versatilidade na cabine. “Atualmente, muitos estilos se misturam, e, por vezes a linha que separa um estilo de outro, praticamente desaparece. Quem nunca encontrou uma mesma música classificada diferentemente (quanto ao gênero) em mais de um blog/site?

Os preferidos de Piñero

A música eletrônica que mais marcou a vida de Piñero foi Emissions, do Dubfire. Além de excelente, a música foi marcante em um momento específico de sua vida, elevado à potência máxima quando assistiu à apresentação do Deep Dish no Warung. “Foi em 2008, e Emissions teve um impacto devastador para mim. Foi nítida a mudança musical e de postura do Dubfire dentro do Deep Dish, com relação a 2006. A identificação foi instantânea."

Sobre o DJ preferido, ele diz que é uma escolha bastante difícil, tendo em vista o grande número de bons produtores da atualidade. Mas, apesar de hoje não ser mais o seu preferido, elegeria Oliver Huntemann, pelo conjunto da obra e pela influência que teve sobre sua carreira. “Vi o Oliver no Terraza de Floripa esse ano, achei o set fantástico, mas muito parecido com o anterior. Impecável, como sempre, mas esperava novidades e elas não vieram.” Atualmente, produtores como Affkt, CJ Hartmann, Daryl Vlys e Andreas Henneberg, são alguns que estão no topo de sua lista de preferência.

Piñero acha que a alta velocidade em que anda nosso mundo, criou nas pessoas uma necessidade constante de consumir novidades. “Isso acaba dando um prazo de validade muito curto às músicas, o que é contestável, já que música boa é música atemporal. É uma questão de mentalidade, pois quem nunca ouviu uma música antiga e foi remetido a momentos marcantes da sua vida?” Segundo ele, essa é uma das grandes capacidades sensoriais da música: funcionar como portal.

Quando questionado sobre a melhor pista onde já tocou até hoje, disse ser difícil escolher uma, mas algumas que marcaram muito foram a Biônica Paraíso (no Beco Disko Club), Albrg (na última noite do club Havana, em Caxias do Sul), Hell (Vegas/SP) e todas as Festas SHIFT, mas em especial a que ocorreu na Cabana, com Marc Romboy como headliner. Segundo ele, aquela foi uma festa especial, e a foto abaixo traduz muito este momento. Emblemática, mostra Piñero tocando e Marc e a pista sorrindo.


 
Inspiração

Quando questionado sobre a sua maior inspiração, Piñero disse não existe uma pessoa ou fato, mas sim determinadas características, traços de personalidade, o caráter das pessoas. A coragem de pessoas que querem mudar seu mundo e que trabalham para isso. Segundo ele “nós podemos ser nossos maiores obstáculos, mas também nossos verdadeiros heróis”.

Piñero diz não gostar de religião, mas que fé pode sim “mover montanhas”. Acredita numa força invisível, formada pela energia dos pensamentos humanos. Uma espécie de inconsciente coletivo do qual podemos participar ativamente, para o bem ou para o mal. “Tudo se inicia pelo pensamento. Gosto de chamar essa força de Cosmos. Acredito que estamos entrelaçados nessa “teia” de pensamentos e energia deles desprendida. Por isso podemos nos moldar ao ambiente, ou moldá-lo como preferirmos. Espectadores ou agentes de mudança. Questão de escolha e força de vontade (e de pensamento)."

Planos para o futuro

Devido o fechamento dA Cabana (club que fundou e administrou por um ano e meio), em razão de divergência societária, Piñero afastou-se temporariamente da produção de festas em maior escala. Continua, entretanto, produzindo concorridas private parties direcionadas a um grupo fechado que mantém vivo o melhor da cultura da música eletrônica. A Cabana se mantém viva como marca, festa itinerante (como foi a participação do Ecosounds Festival, com a A Cabana Stage) e num futuro, com uma nova sede. Diz que existem planos interessantes para o médio prazo, e que sua marca mais forte, a SHIFT (que já trouxe a POA artistas internacionais como Oliver Klein, Noir, Marc Romboy e Sèbastien Lèger), pode voltar esse ano ainda. Porém, no momento, o foco principal é sua carreira e marca como DJ.

Quando questionado com quem gostaria de fazer um B2B, sem limites de possibilidades, a resposta obviamente foi: Oliver Huntemann.

Pista dA Cabana na Ecosounds

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